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‘Fungo Negro’: CE registrou 2 primeiras mortes do Brasil causadas por tipo de mucormicose em 2023

‘Fungo Negro’: CE registrou 2 primeiras mortes do Brasil causadas por tipo de mucormicose em 2023
Fonte: Diário do Nordeste



Doença causa lesões graves e escurecidas no corpo e comprometimento do organismo



Dois casos fatais de mucormicose inéditos no Brasil foram registrados oficialmente no interior do Ceará. A patologia é causada por uma espécie de fungo da ordem Mucorales, que pode infectar o ser humano por inalação, inoculação ou mesmo ingestão dos esporos dispersos no ambiente. De acordo com o Ministério da Saúde, a condição é conhecida como doença do “fungo negro”.

As vítimas foram um homem e uma mulher do Vale do Jaguaribe. Os óbitos ocorreram em 2023, mas só tiveram o agente causador identificado no início deste ano, após análises de amostras dos pacientes no Laboratório de Micologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

As informações foram compartilhadas durante o 8º Seminário Estadual de Vigilância em Saúde, realizado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) na Escola de Saúde Pública do Estado (ESP), em Fortaleza, na última semana.

Raro na literatura científica, o fungo Saksenaea erythrospora é descrito como emergente e causador de infecções de pele invasivas, incluindo a necrose (destruição) de tecidos. Até o momento, ele só havia sido mapeado em países como Argentina, Colômbia e Austrália.

De acordo com a assessora técnica da Sesa e articuladora do Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), Kamilla Carneiro, em entrevista ao Diário do Nordeste, o achado é inédito no Brasil e ainda deve ser publicado oficialmente.

O primeiro paciente vitimado no Ceará foi um agricultor de 51 anos, com histórico de hipertensão arterial. No dia 18 de abril de 2023, ele apresentou um quadro de febre, tosse e dores e buscou a administração de um medicamento na veia, mas fora de um ambiente hospitalar.

Dois dias depois, ele evoluiu com manchas na coxa e partes do tronco. Com a piora do quadro de saúde, foi transferido de Potiretama para Limoeiro do Norte e, depois, Fortaleza. Apresentava disfunção nos rins, aumento de ácido úrico e indicação de hemodiálise.

O homem faleceu no dia 30 do mesmo mês, acometido de rabdomiólise (destruição das fibras musculares) e sepse (infecção generalizada). Ele apresentava grandes manchas circulares e púrpuras em várias partes do corpo.

No mesmo dia da morte do agricultor, dava entrada num hospital de Fortaleza uma técnica de enfermagem de 48 anos, moradora da mesma cidade do homem, diabética e já apresentando lesões necrosantes. No dia 18 de abril, ela havia se automedicado com injeção intramuscular na coxa, e quatro dias desenvolveu manchas.

Na capital, ela evoluiu com gravidade, com novas lesões e sem responder à terapia antifúngica. Precisou ser entubada, mas faleceu em 24 de maio, 36 dias após as primeiras manifestações. Ela apresentava lesões escurecidas na coxa, no abdome e na axila.

Os dois casos tiveram como Causa Básica de Óbito (CBO) fasciíte necrosante, descrita como uma infecção grave e rara que destroi os tecidos abaixo da pele.

Compartilhamento de seringa
Mas qual era a relação entre os dois casos, se eram semelhantes e tiveram origem na mesma cidade? Kamilla Carneiro explica que, após uma extensa investigação e entrevistas com as famílias, a rede de vigilância descobriu que o homem e a mulher haviam compartilhado a mesma seringa.

No dia 18 de abril, com algumas queixas, o agricultor pediu uma medicação, que seria administrada na veia pela técnica de enfermagem, mas houve uma intercorrência. Segundo a assessora técnica, a tentativa de aplicação ocorreu num ambiente inadequado: uma casa suja vizinha a um curral para criação de gado.

No mesmo dia, a mulher aplicou a mesma medicação em si própria, via intramuscular, utilizando a mesma agulha. A equipe de investigação não conseguiu descobrir qual foi o remédio utilizado nem o paradeiro da seringa.

“O problema mesmo era na casa, que era muito suja e um ambiente inapropriado e inseguro para fazer preparação de medicamento, porque não era um ambiente estéril. Era uma casa fechada, sem convivência, com muita poeira e sujeira acumulada, ao lado um curral com esterco. Isso corrobora com a literatura sobre os esporos (de fungos) sendo importantes para a infecção”, relata Kamilla.
A principal linha dos pesquisadores é que a infecção dos pacientes tenha ocorrido pelo rompimento da barreira da pele por causa das injeções.

“Temos hipóteses de que o que favoreceu foi a própria contaminação do material de administração em um ambiente inapropriado. Ambiente seguro é num ambiente hospitalar, ambulatorial, que tem condições recomendadas”, ressalta.

Fonte: Diário do Nordeste

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